Chanfana na slow cooker
Cozinhada em caçoilas de barro, a chanfana é um prato típico Português que resulta muito bem na slow cooker e quase sem trabalho.
Uma
iguaria tradicional, reclamada por muitos concelhos da Região Centro, que a
celebram na suas semanas Gastronómicas. Miranda do Corvo intitula-se Capital
da Chanfana, assim como Vila Nova de
Poiares se batizou de Capital Universal da Chanfana. Disputas à
parte, sobre as quais não vou dar opinião, o importante é que a chanfana é um
pitéu apreciado por muitos e está disseminada um pouco por todo o país, embora tenha muito mais expressão, na zona da Serra da Lousã.
Quando fui pesquisar sobre as origens deste prato encontrei duas histórias diferentes. Para além de ser património gastronómico, também há lendas associadas à chanfana.
Uma delas relaciona a chanfana com as invasões francesas. Numa das versões, os soldados confiscaram todos os animais
para a sua alimentação, deixando apenas as cabras velhas e já inúteis. Como a
água estava envenenada, a carne foi cozinhada em vinho. A outra
versão, indica que os agricultores teriam de pagar “rendas” em géneros, entregando
muitas vezes as cabras velhas. Para amealharem a quantidade de carne entregue, sem que se estragasse, esta era cozinhada em vinho. Guardava-se depois nas caves frescas, conservando-se no
vinho e na sua própria gordura ao longo de todo o inverno.
Nem sempre fui apreciadora de chanfana. Quando era mais nova, pratos mais fortes não eram propriamente do meu agrado. Não sei se aprendi a apreciar, se foi a história da “educação do paladar” ou se é mesmo da idade, o certo é que gosto bastante de uma boa chanfana.
É uma receita que deve ser preparada na véspera ou antevéspera. Normalmente é confecionada em forno de lenha, dentro dos tradicionais caçoilos de barro da região, durante pelo
menos 4 horas. Fica a repousar no forno e na hora de servir é aquecida e
acompanha com batatas cozidas e grelos.
Hoje em dia faz-se chanfana com outras carnes, mas eu usei mesmo cabra velha, que consegui através de uma senhora que é pastora. As carnes de animais mais velhos são mais duras e demoram mais tempo a cozer, se usar carnes mais jovens, reduza o tempo total de cozimento.
Nas receitas confecionadas com muito vinho, recebo algumas mensagens relacionadas com a evaporação, ou o receio que o álcool não evapore. O álcool evapora a partir de 78ºC, que esta receita ultrapassa, ainda que cozinhada na função "baixo". Na última hora destapo a panela, para permitir a evaporação. Como em todas as receitas recomendo a utilização de um vinho de qualidade. Há receitas de chanfana em que juntam também aguardente, eu não usei.
Ingredientes:
Carne de cabra velha
Vinho tinto (500 ml)
Alecrim
Alho
Azeite (cerca de 2 colheres de sopa)
Cebola
Acompanhamento:
BatatasEspigos de couve ou grelos (ou outra hortaliça de folhas verdes).
Preparação
Temperar a carne na véspera de cozinhar com uma vinha de alhos (coloquei bastante alho, um pouco de sal, vinho, alecrim e louro).
Colocar cebola picada no fundo da panela de barro e dispor a carne por cima.
Regar com a marinada, colocar mais alho e vinho até cobrir a carne.
Ligar a slow cooker na função low por 10 horas (o tempo total depende da dureza da carne, como usei mesmo cabra velha foram necessárias as 10 horas, vigie pelo menos ao fim de 8 horas para ajustar se necessário).
Na última hora, retifique os temperos e deixe a panela destapada.
Quando estiver pronto, desligue a panela e deixe repousar. Deixei de um dia para o outro, a carne com o vinho e a gordura não se estraga facilmente, desde que não esteja numa área quente. Quando arrefece forma-se uma espécie de película sólida na superfície, que é a gordura solidificada.
Duas horas antes de servir ligue a panela no "alto", para aquecer bem, deve deixar atingir cerca de 90º. O tempo total vai depender da potência da panela e da ocupação da mesma. Pouca quantidade demora menos, panela muito cheia, demora mais.
Servi acompanhado com batatas e espigos de couve cozidos e salpicados com salsa fresca picada.
Notas:
Para esta receita usei a Crock-Pot multisize digital, com a panela de 5.6 litros, e 220-240 W de potência.
A receita devem ser adaptada às características da panela slow cooker onde vai ser confecionada.
Se fizer a receita, partilhe nos comentários a sua experiência (e as características da sua panela), para ajudar outros visitantes do blogue a adaptar a diferentes panelas.
Vou experimentar. Sou originário da região de Miranda do Corvo (na verdade só moro a um quilómetro do limite do concelho). Sou indiferente às disputas geográficas, até porque os dois concelhos são muito próximos sem falar na Lousã, onde fica Foz de Arouce, que foi local da batalha com o mesmo nome numa das Invasões Francesas e portanto acredito que terá sido "por ali" que a coisa terá nascido. Outro fator a favor a favor da primeira versão é o facto de ali, bem no alto da serra, se localizar a povoação de Chãs donde resultaria o nome "Chan..fana". Agora um pequeno pormenor. Em Miranda não se usa cebola nem alecrim, mas sim colorau e uma folha de louro. Outro pormenor é que se não for de cabra velha não é chanfana. Poderá até ser um prato delicioso mas não é chanfana: Há por exemplo a Malapantana (perdão se estiver mal escrito) na região de Mortágua, com carne de borrego e até a Alcatra dos Açores que será um prato idêntico e feito com vinho branco, e ainda um prato que, na minha juventude, me lembro de ser feito por quem não tinha carne de cabra e era feito numa panela com carapau do grande (chicharro) em vez da cabra e o resto dos ingredientes eram iguais. Mas chamava-se carapau de chanfana e não chanfana de carapau (na verdade não me lembro bem como é que a gente lhe chamava :). Bom apetite
ResponderEliminarMuito obrigada pela partilha Carlos.
EliminarÉ sempre bom termos ajuda dos habitantes locais para estes esclarecimentos. No Minho, mesmo não sendo terra de chanfana, também sempre ouvi dizer que se fazia com cabra velha.
Bons cozinhados ;)