Deliciosa aletria na slow cooker

A fantástica aletria da avó, na versão slow cooker.

A minha filha adora aletria, ou melhor, adora a aletria da avó! Quando faço cá em casa diz que está boa, mas não é como a da avó. A aletria que a minha mãe faz é muito difícil de reproduzir, porque é tudo a olho, sem medidas, o que me dificulta a vida na hora de tentar imitar. Como gosto de coisas pouco doces, provar e encontrar o equilíbrio para o gosto de todos, nem sempre é fácil. 

Há uns dias perguntaram-me no Instagram se já tinha experimentado fazer aletria na slow cooker. Nunca tinha feito, mas respondi que seria um caso a pensar, ainda trocamos algumas ideias sobre a receita. Associei à receita dos formigos, uma receita tradicional  mas como leva leite, teria de estar mais atenta ao tempo. Decidi começar a fazer experiências! 

No processo de adaptação das receitas para o slow cooking, costumo ter em atenção o comportamento dos ingredientes em cozedura lenta. Aqui temos de controlar o tempo, devido aos laticínios, por isso terá de ser em "alta". Nesta técnica costumo reduzir o açúcar, uma vez que a mesma quantidade adoça mais no slow cooking, e temos de ter presente que quase não há evaporação. Por vezes faço vários testes, sempre com ajustes e alterações, até chegar à receita que para o meu gosto e dos provadores oficiais cá de casa, é a melhor. 

Os conceitos como " o melhor", "excelente", "delicioso", e todos os outros adjetivos que me lembrasse seriam sempre muito subjetivos, tal como os gostos pessoais. No caso da aletria, por curiosidade, coloquei uma sondagem no Instagram, em que perguntava qual era a melhor, a cremosa ou a de cortar e os resultados foram equilibrados, com 54% dos votos na cremosa e 46% na mais durinha.

Fiz esta receita de três formas diferentes, decidi partilhar as várias experiências, para que possam adaptar ao vosso gosto pessoal. 

Começamos sempre pela infusão de leite com os aromas (canela e limão), podem escolher outros sabores como baunilha (nesse caso é preferível usar em vagem, se usarem concentrado usem de muito boa qualidade, pois a cozedura lenta vai realçar o sabor). A aletria só é adicionada depois do leite estar bem quente (cerca de 95º). Se não tiverem termómetro, é quando nas bordas da panela começarem a aparecer bolhinhas.

Ingredientes

500 ml de leite (+ 100 ml extra para mais cremosa)

150 gr de aletria

1 pau de canela

casca de limão

100 gr de açúcar

40 gr de manteiga

2 gemas 

1 pitada de sal,

canela em pó para polvilhar.

Preparação

Coloca-se o leite na panela, junto com a canela e a casca do limão, que retiro com descascador para cortar fininha, sem a parte branca (pode deixar um sabor amargo).

Quando o leite tiver bem quente (cerca de 95º) juntar o sal, o açúcar, a manteiga, a aletria e mexer.

A aletria pode ser junta seca, ou escaldada previamente (ver as experiências abaixo).

O tempo de cozedura pode variar entre 20 minutos a 1 hora, dependendo do gosto pessoal e das características da panela. Nas experiências abaixo relato os resultados com tempos diferentes.

Juntar as gemas batidas com um pouco de leite morno, mexer até se misturarem bem com a aletria.

Desligar a panela e 5 minutos, depois mexe-se e pode retirar-se a aletria.

Servir em prato ou em tacinhas, polvilhado com canela, a gosto

Primeira experiência

Na primeira experiência de aletria na slow cooker, fiz uma infusão com o leite, o pau de canela e a casca de limão,  até o leite ficar bem quente (na minha crock-pot demorou cerca de 1 hora, para 600 ml leite). Depois juntei a aletria e o açúcar e deixei mais uma hora, no fim acrescentei a manteiga e duas gemas e mexi bem. Precisei de mexer bastante porque a massa estava um pouco aglomerada, com isso quase se desfez e o resultado foi bastante cremoso, quase a lembrar um leite creme, com uns fios de aletria. O sabor estava delicioso para os provadores oficiais (demasiado doce para mim), mas a textura não era a típica da aletria.

Segunda experiência:

Iniciei o processo com menos 100 ml de leite, pensando que no anterior pudesse ter leite a mais. Quando juntei a aletria foi difícil molhar a massa, talvez pelo pouco leite, ou parti menos as meadas, ou pela dimensão da panela (5.6 l). Juntei a manteiga e o açúcar (reduzi o açúcar de 120 para 100gr) e mexi bem. Não conseguia que a massa ficasse toda  submersa no leite, pelo que acabei por ter de juntar mais 50 ml, que aqueci antes, para não baixar a temperatura. Cozeu cerca de 30 minutos. Ficou mais durinha e já não parecia o "leite creme" da experiência anterior. Estava bem boa!

Terceira experiência

Desta vez fui inspirada por um vídeo da Aletria com ovos no Instagram da Teresa Cameira, com a receita tradicional da Maria de Lurdes Modesto. Mantive os ingredientes, que são diferentes dos da receita original. A diferença em relação à experiência anterior foi que  escaldei previamente a massa. Ficou 2 minutos em água a ferver. De seguida escorri e ficou cerca de 30 minutos na infusão de leite na slow. Acabei por acrescentar mais um pouco de leite, cerca de 50 ml. 

Notas:

Os tempos de cozedura variam com as características dos equipamentos, com a temperatura dos ingredientes, assim como com a quantidade dos mesmos. 

Usei uma panela Crock-Pot de 5,6 litros e 240 w de potência.

Para mim a grande vantagem da slow cooker é a capacidade de simplificar. Adoro as receitas de tudo lá dentro, ligar o botão e só pensar na comida na hora de servir. A aletria não é uma dessas receitas, mas o resultado compensa, na minha opinião. A infusão lenta dos aromas no leite potenciam o sabor, assim como a cozedura lenta.